A Equitação
Terapêutica é definida como um método terapêutico e educacional que utiliza o
cavalo como instrumento de reabilitação.
Então,
como pode a Terapia da Fala inserir-se neste contexto? Para que possamos
refletir sobre a interface da Terapia da Fala com a Equitação Terapêutica e traçar
um paralelo entre ambas é necessário definir o que é a Terapia da
Fala.
A Terapia da
Fala é a profissão da área da saúde
que pesquisa, previne, avalia e trata as alterações da voz, fala, linguagem,
audição e aprendizagem. Na realidade, todas as áreas de
atuação têm em comum o fato de terem, de algum modo, interferência no processo
de comunicação humana. Dentre
as áreas de atuação do Terapeuta da Fala, é importante destacar a
diferença entre linguagem e fala. A linguagem é o processo mais amplo na
comunicação humana e é através dela que é possível o ser humano estabelecer-se
como tal. É através da linguagem que podemos expressar nossos desejos,
pensamentos e ideias. A linguagem pode ser expressa de forma gestual, gráfica,
escrita ou oral, verbal ou não verbal.
O movimento tridimensional associado à intervenção terapêutica possibilita que haja alongamentos, mobilizações e ativação de grupos musculares que propiciam um desenvolvimento motor global, onde todo o corpo é tem benefícios.
O movimento tridimensional associado à intervenção terapêutica possibilita que haja alongamentos, mobilizações e ativação de grupos musculares que propiciam um desenvolvimento motor global, onde todo o corpo é tem benefícios.
Se acompanharmos as aquisições motoras do desenvolvimento normal e as correlacionarmos
às aquisições da fala e linguagem, podemos entender os efeitos do movimento
tridimensional no corpo, na fala e na comunicação dos praticantes da equitação
terapêutica.
Ao nascer, os bebés possuem o reflexo de sucção, primeira função
estomatognática a surgir, seguida da deglutição. Nessa fase, os ombros estão
elevados, a respiração é rápida e curta, a laringe está elevada, a língua ocupa
toda a cavidade oral. Toda
essa biomecânica só permite que o bebé produza sons nasais e que a sua sucção
seja realizada em movimentos antero-posteriores da língua.
Com o desenvolvimento, os músculos
cervicais vão sendo alongados e a musculatura supra e infra-hióidea vai sendo
ativada. O apoio de braço, que ocorre por volta dos 4 meses, vai fortalecendo a
musculatura extensora de tronco, tão importante para o controle de cabeça. A criança vai refinando as suas aquisições, até que aos 6 meses consegue
sentar-se com apoio. Começa a transferir peso de um lado do corpo para o outro.
Na aquisição oral, tal fato viabiliza que a mandíbula também sinta a ação da
gravidade de forma alternada, possibilitando a introdução de alimentos mais
sólidos para que possam ser mastigados. Tal
sequência de eventos promove a lateralização da língua, aumentando a sua
mobilidade em diferentes planos fazendo com que seja possível, não só refinar o
controle para a alimentação, mas também para a posterior articulação de fonemas.
Como é sabido na literatura especializada, para que haja mobilidade é
necessário haver pontos de estabilidade, portanto para poder movimentar a
língua para falar e alimentar-se é preciso que a mandibula esteja estável. E a
estabilidade de mandíbula depende de todo o processo que já vimos.
Na Equitação Terapêutica, podemos
realizar atividades que envolvam a rotação do tronco, apoio de braço,
transferência de peso, alongamento da musculatura flexora do tronco, possibilitando a ativação da musculatura extensora do tronco e respiratória.
Além disso podemos utilizar manuseamentos que induzam um controle mais efetivo
da cabeça, estabilizando assim a musculatura hióidea, possibilitando que a
língua possa ter mais mobilidade.
Além das atividades dirigidas ao
desenvolvimento motor global e oral, a linguagem também é trabalhada, pois os
terapeutas da fala atuam como
interlocutores e os pacientes são expostos a um ambiente rico em estímulos,
desenvolvendo a perceção e promovendo a vontade de compartilhar o que vê, ouve
e sente. Assim, amplia-se o mundo de conhecimento da criança, já que é possível
que ela explore o cavalo sempre de formas diferentes e fazendo correlações com
seu próprio corpo e com a sua vida.
Outro fator importante é que as
informações recebidas através dos ísquios, que ascendem ao cérebro durante a
montaria, estimulam fortemente a formação reticular e com isso melhoram a
atenção e a concentração do praticante, permitindo melhor interação
interpessoal, que é a base para comunicação.
Portanto, para que haja comunicação é
necessário a presença de alguns elementos: ter o que comunicar, como comunicar
e ter quem ouça. Em outras palavras, é preciso que a criança saiba o que quer
expressar (desejo, sentimentos, ideias, conhecimentos). Para tal, é necessário
que haja o mínimo de cognição para perceber que seus atos comunicativos geram
reações e para organizar os eventos que deseja comunicar. Também é importante
ter algum canal que expresse sua linguagem e que essa linguagem possa ser
entendida e aceite pelo interlocutor.
Segundo a teoria sócio-interacionista de Vygotsky, para que haja
comunicação é preciso que exista um contexto situacional. No caso da Equitação
Terapêutica, esse contexto é dado pelo cavalo e o seu mundo: a sela, o que ele
come, a sua cor, a sua textura, o seu comportamento, a sua estrutura anatómica.
Enfim, todo o contexto em que o cavalo se insere e que o terapeuta relaciona
com o mundo da criança.
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Fonte: http://pt.depositphotos.com/ |
- audição para receber e interpretar estímulos;
- funções orais (sucção, deglutição, mastigação e fala);
- boa postura corporal influindo na respiração e consequentemente na produção da voz.
Para
facilitar o desenvolvimento da linguagem é necessário:
- Esperar pela resposta e valorizá-la;
- Buscar sempre o máximo que pode dar, sem no entanto, exigir mais do que ele possa realizar;
- Utilizar meios alternativos de comunicação em casos de incapacidade de comunicação oral;
- Adaptar a linguagem ao seu nível, sempre procurando expandi-la;
- Explicar os significados das palavras;
- Narrar os acontecimentos previamente, para desenvolver a sequência de eventos;
- Comentar situações vivenciadas por ele e mencioná-las em outras sessões, para que a criança possa lembrar e ter a ideia de tempo passado.
ASPETOS E SUGESTÕES PARA ATIVIDADES DO TERAPEUTA DA FALA NA EQUIPA
- É uma terapia complementar e, dentro dela, cada um dos profissionais envolvidos pode desenvolver objetivos específicos, embora compatíveis com um planeamento global. Não se pode perder de vista a dimensão do tempo disponível e a atuação transdisciplinar da equipa;
- O fato de se lidar com o cavalo, propicia o surgimento de situações que demandam diálogo espontâneo, tornando a terapia mais ativa e dinâmica. O cavalo é um instrumento de integração sensorial. A criança toca o cavalo e percebe a sua textura, temperatura, o seu movimento, ouve os seus passos e o relinchar, sente o seu cheiro e vê a sua forma, cor e tamanho, sente seu movimento, tudo ao mesmo tempo. São trabalhados todos os canais sensoriais: audição, visão, proprioceção, tato, gustação, olfato.
- O contato da criança com o meio ambiente de forma livre e ativa, porém supervisionada, permite que ela desenvolva aspetos psicomotores mais rapidamente. No consultório, mesmo que a psicomotricidade seja trabalhada ela será feita de forma mais estática e com menos recursos.
- Os aspetos gráficos da escrita são trabalhados restritivamente na Equitação Terapêutica, pois o posicionamento no cavalo e a sua movimentação dificultam a realização da escrita.
- Conjunto de procedimentos práticos que podem ser utilizados: avaliar e traçar metodologias terapêuticas adequadas para cada praticante; promover o desenvolvimento da expressão corporal dos praticantes; participar na escolha e realização dos materiais didáticos; participar nas decisões e elaboração dos planeamentos; desenvolver trabalhos de prevenção, no que se refere à área de comunicação escrita e oral; orientar pais sobre questões de alimentação, como estimular a linguagem, como lidar com as dificuldades na escola etc.; sugerir e discutir com a equipa encaminhamentos quando o praticante necessite de outras terapias específicas; estimular a linguagem de forma alternativa, quando for o caso.
ÁREAS
A utilização de recursos pressupões
que estes sejam adequados e criativos, devendo incidir na promoção dos objetivos
definidos para cada paciente, assentes nas seguintes áreas:
Estimulação sensorial
·Visual
·Auditiva
·Gustativa
·Tátil
·Olfativa
·Propriocetiva
·Equilíbrio
Motor global:
·Conscientização
corporal
·Função do corpo
·Localização do corpo no espaço
Motor fino:
·Escrita
·Funções manuais (cortar, desenhar etc.)
RECURSOS
Considerando os aspetos lúdicos e técnico-terapêuticos, os materiais devem
ser simples, dependendo dos objetivos pretendidos.
Podemos
utilizar:
·Jogos simbólicos
·Livros de histórias
·Luvas e materiais de diferentes texturas
·Cartões com figuras diversas e números
·Bolas de diferentes cores, tamanhos e formas
·Jogos de encaixe
·Palhinhas, Espátulas
·Espelho
·Materiais sensoriais (gelatina em pó, massinhas, objetos com cheiros,
brinquedos sonoros e visuais)
Adaptado de: http://equoarte.com.br/?page_id=157
Vanessa Gouvêa
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