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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

DISFLUÊNCIA/ GAGUEZ FISIOLÓGICA

Entre os três e os seis anos de idade, as crianças encontram-se «muito ocupadas» a aprender a falar. O meio circundante oferece regularmente situações e experiências novas, sobre as quais as crianças pretendem conversar, mas nem sempre estão preparadas para o fazer. Habitualmente, as exigências do meio são muito superiores às suas capacidades. Partindo deste pressuposto, numa tentativa de comunicar as suas ideias, de maneira mais complexa, as crianças podem apresentar dificuldades na produção de sons; alterações leves do tipo repetições, pausas ou silêncios prolongados; lacunas no vocabulário; défice na evocação ou dificuldade em construir frases. Estas dificuldades podem gerar alguma ansiedade, que provavelmente aumentará se perceber que os pais também estão preocupados.

As crianças podem ser disfluentes em muitos momentos, mas normalmente pioram quando estão cansadas, excitadas, aborrecidas, ou «apressadas» para falar. Também, podem ser mais disfluentes quando fazem ou respondem a perguntas. As disfluências podem aumentar em frequência durante vários dias ou semanas e, depois quase desaparecer durante semanas ou meses, voltando novamente mais tarde.

Algumas situações em que se podem verificar hesitações e repetições «normais» na fala da criança:

 Quando pretende dar ênfase às palavras - “bola, grande, grande”;

 Quando quer chamar a atenção - “não, não, não e não”;

 Para treinar uma palavra nova - “po-pro-propósito”;

 Para integrar uma palavra nova - “de propósito, de propósito”;

 Para irritar alguém - “tu és feia, feia, feia”;

 Quando não sabe usar as regras gramaticais - “eu não estou, eu não estava, não estava a querer dizer isso”;

 Para «brincar» com as palavras - “casa, porta, porta, casa, porta da casa”;

 Para tentar construir frases mais longas - “Onde livro? Onde está o livro?”;

 Se tem pouco tempo para falar - “ai, ai, ai, ela bateu-me, e, e, e, eu…”;

 Se está com medo ou ansiosa - “eu, eu, eu tenho medo”;

 Para imitar alguém.

Quando a criança entende que pode explicar o que aconteceu e tenta “ensinar”, ela também assume um papel de modelo. A troca de papéis desencadeia um processo de consciencialização por parte da criança sobre a sua fluência, sobre os efeitos da gaguez em si e nos interlocutores.

Com crianças dos três aos cinco anos, deve-se procurar mostrar-lhes, subtilmente, o que é a fluência e a disfluência e o que se pode fazer para a disfluência se modificar. Efectua-se o seguinte: ensina-se como brincar com as palavras e a não ter medo delas. Procura-se também dessensibilizar a criança dos medos e inseguranças, criando um ambiente favorável à comunicação. São exemplos de actividades que podem ser realizadas: recitar versos; falar em uníssono com a criança, para obter uma fala fluente desde início; ajudar a criança na formulação verbal, a banda - desenhada é óptima para esta actividade; dar “respostas espelho”, por exemplo: o terapeuta dá uma ideia – “O cão ficou feroz” e a criança verbaliza; imitar o barulho dos animais, prolongando os sons (onomatopeias); utilizar palavras que tenham ritmo; entre outros. Em casos muito severos, com crianças de 6 a 8 anos, podem ser abordados da mesma maneira que a terapia de adulto, só que em situação de jogo, ou seja, num ambiente lúdico, mais relaxado, utilizando vocabulário acessível à criança.

Sugestões para os pais:

 Olhe para o seu filho enquanto ele fala consigo;

 Mostre interesse, valorizando o que ele tem para dizer e não só a forma como o faz;

 Não interrompa, nem complete as suas palavras e frases;

 Aceite um certo nível de disfluência no discurso;

 Evite comentários como “tem calma e fala devagar”, “pensa antes de falar”, “espera até conseguires dizer”. Com estes pedidos estamos muitas vezes a tentar sugerir à criança uma forma mais fácil de falar. No entanto, o seu filho nem sempre é capaz de o fazer. Por outro lado, ele pode senti-los como uma crítica negativa à forma como fala;

 Sirva de modelo ao seu filho falando de forma lenta e descontraída. Poderá também ler para ele de uma forma relaxada;

 Controle as suas reacções: expressões de desagrado ou preocupação; suspiros; movimentos dos dedos revelando stress, riso, etc. Procure agir do mesmo modo caso ele esteja a falar de forma fluente ou disfluente;

 Encoraje-o a falar frequentemente, mas não o obrigue a conversar com estranhos caso ele não queira;

 Mantenha-o saudável, prestando atenção à sua alimentação e ciclos de sono. Não podemos atribuir os momentos de maior ou menor disfluência apenas a factores emocionais. O funcionamento do sistema nervoso altera-se em função de condições como a doença ou fadiga;

 Não o super proteja. Use a mesma disciplina como com qualquer outra criança;

 Ajude-o a desenvolver trabalhos construtivos e passatempos. Leia-lhe histórias, comente o que vê na televisão, fale de coisas que lhe interessam;

 Promova a sua auto-confiança, reforçando-o por tudo aquilo que ele faz bem. Nas situações de fala reforce aquilo que ele diz e não a forma como o diz. A ausência de períodos disfluentes não deverá ser reforçada uma vez que estaremos a chamar a atenção para a mesma, criando-lhe mais responsabilidade em situações futuras de fala;

 Fale abertamente sobre a disfluência se ele assim o desejar, mas não faça disso um grande problema;

Se o seu filho atravessa um período de grande disfluência proporcione-lhe experiências positivas de fala tais como canto, recitação de poemas ou rimas, fala com ritmo, imitação de vozes, fantoches, entre outros.

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